domingo, 13 de julho de 2008

O Sono dos Deuses (com empatia)

Dormes à beira da calçada
Enquanto os vermes comem tua carne e vão de encontro às víceras
Se tens forme dorme
Quem sabe sonhas com um banquete à altura da tua fome
Defunto a qual as chagas putrefam às esperanças
E do qual a dor se assemelha a de um soldado da I grande guerra
Queres morfina? Não temos morfina!
Deixai teu corpo produzir o anestésico
Liberando de acordo com a dor que sentis
Mas dorme
Num sono não tão profundo quanto o do Deus que te deram
A única coisa que te deram no mundo

Dorme com o sono dos incontestados
Com a fome dos não saciados
E com a dor dos não encontrados
A tua única esperança é não acordar
Porque vivis às avessas
Pois a realidade é o teu pesadelo
E o teu maior sonho é não enlouquecer, quando não é um prato de comida.

Nas alucinações vê bichos que querem te comer
Mas te acalmes ainda não estas louco!
É que a dor e a fome trabalham em comunhão
A sugar os últimos instantes da tua vida

Dormes à beira da causada
Sujeito sem nome
Mas isso não é o pior
Nada é tão desumano quanto não ter rosto
Nem te lembras a última vez que te olharam nos olhos
Faz tempo, nem quem te olhou se lembra!
É que sem família e lar ninguém tem identidade
E sem terno somos todos invisíveis

Dorme defunto social
Dorme de encontro à morte
A sociedade te cobra isso
Mas não ficas a fazer entulho nas causadas
Por que amanhã tem outro
Enquanto os deuses dormem!

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